Pesquisadores do BioMicS desenvolvem novo método de diagnóstico para a morte súbita dos citros

Em estudo conduzido por cientistas do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), da Embrapa Instrumentação, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG) foi analisada a variação na composição dos ácidos graxos de plantas afetadas pela morte súbita dos citros (MSC). O artigo resultante da pesquisa foi publicado em janeiro no Journal of the Brazilian Chemical Society e a análise de ácidos graxos representa um método alternativo para reforçar o diagnóstico da MSC.

O estudo, financiado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil), FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), iniciou-se com a coleta das cascas de porta-enxertos de limão cravo (Citrus limonia Osbeck) e de enxertos de laranja Valência (Citrus sinensis Osbeck) de árvores com sintomas de MSC – moderados ou severos – e sem sintomas.

A partir dos triacilglicerídeos (óleos) extraídos dessas amostras obteve-se os ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME). Os FAMEs foram identificados por cromatografia gasosa ao comparar o tempo de eluição das amostras com o de padrões, enquanto suas concentrações relativas foram obtidas  a partir do sinal do detector por ionização de chama.

Os ésteres metílicos de ácidos graxos encontrados em menor quantidade foram os ácidos cáprico, láurico, mirístico e esteárico, enquanto os majoritários foram palmítico, oleico, linoleico e linolênico. Os ácidos cáprico, láurico e mirístico apresentaram aumento de concentrações nas amostras de porta-enxerto com a gravidade dos sintomas de morte súbita dos citros, já os ácidos esteárico e linoleico apresentaram aumento tanto no enxerto quanto no porta-enxerto. As concentrações dos ácidos linolênico e oleico diminuíram com a gravidade dos sintomas tanto no porta-enxerto quanto no enxerto.

O estudo prosseguiu com a execução de tratamentos quimiométricos, com os métodos SIMCA e KNN, utilizados para classificar as árvores sem e com sintomas de acordo com seu perfil de ácidos graxos. Os resultados obtidos foram satisfatórios, de forma que essa classificação pode ser utilizada como um método alternativo para reforçar o diagnóstico de morte súbita dos citros.

Ainda não se sabe o porquê desse efeito da MSC sobre a composição de ácidos graxos da árvore. Entretanto, uma hipótese é a da biossíntese de ácido jasmônico – o qual está envolvido em mecanismos regulatórios das plantas em resposta a estresses bióticos e abióticos, assim como à senescência – a partir da oxidação do ácido linolênico, o que explicaria a diminuição da concentração desse ácido com a maior gravidade dos sintomas. Além disso, a diminuição de ácido oleico e aumento de ácido linoleico também poderiam ser elucidadas, já que a biossíntese do ácido linolênico em plantas ocorre a partir do primeiro, via o segundo.

A morte súbita dos citros é uma doença transmitida pelo processo de enxerto ou por vetor aéreo detectada apenas no Brasil, onde causou o extermínio de aproximadamente quatro milhões de árvores de laranja Valência. Os sintomas de MSC são descoloramento e desfolha generalizados, engrossamento da casca e coloração amarela na casca do porta-enxerto. A doença destrói o floema das árvores, afetando a absorção de água e nutrientes, de forma que a produtividade da planta e a qualidade dos frutos é afetada, causando prejuízos enormes para os produtores.

 

Texto por Natália Wolf.

 

Mais informações:

https://dx.doi.org/10.21577/0103-5053.20220012

Dr. Emanuel Carrilho

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